Todo o mal começa com os excessos, neste caso os excessos em fornecer crédito para a habitação nos Estados Unidos, o que levou a um crescimento excessivo do preço das habitações, por sua vez a um sobre-aquecimento da construção imobiliária, a bolha encheu, encheu, encheu....e pum! Agora o preço de muitas hipotecas nem sequer cobrem os empréstimos concedidos e as calotes aumentam.
A economia dominava o mundo do final do Séc. XX sobre qualquer outra área de estudo seja ela medicina, arte, direito, biologia, etc, etc, etc, e continua a estender os seus imensos tentáculos sobre a população mundial do Séc. XXI. Se a economia murcha, parece que tudo no mundo murcha, principalmente porque hoje em dia a informação nos chega em autênticas avalanches, viaja à velocidade infernal das bandas largas directamente até ao nosso cérebro e nos esculpe emoções ora de tragédia, ora de estupefacção, ora de imenso regozijo. Já nem no campo nos conseguimos alhear dos mundos financeiros.
O mundo faz germinar a sua vida, cada vez mais, sobre uma raíz de bens e interesses materiais, atropelando sentimentos e condescendências inúteis no caminho para algo tão luminoso e incadescente como o sucesso. Longe vão os dias dos prazeres simples de Marcel Proust ou Gustave Flaubert. Longe vai também (felizmente, o mundo progride e melhora!) a pobreza daqueles tempos mas falta condimentar a vida com menos gula, fazer um pequena travagem. As vidas humanas estão cada vez mais apoiadas em frágeis pilhas, cada vez mais bamboleantes, de empréstimos e dívidas, para não perder carruagens de imensas aparências das quais se extraem duvidosos dividendos. Colocam-se, assim, as vidas nas mãos dos bancos e das grandes instituições financeiras mais do que nunca antes foi feito. Talvez esta actual crise nos mercados financeiros seja uma preciosa altura para o planeta repensar a base das suas quimeras, ajustar o seu rumo e melhorar. Diz um provérbio japonês que os problemas são a chave de um tesouro escondido.