30/10/2008

O Salário Mínimo a 450 euros contestado

O presidente da associação das PME, Augusto Morais, veio numa declaração pública recomendar aos seus associados "que não renovem os contratos” dos trabalhadores com salário mínimo e ameaçou (julgo que não haverá outro modo de colocar a questão) com despedimentos caso o salário mínimo passe mesmo a 450 euros.

Ora parece-me que isto já foi decidido em sede própria e, francamente, estou a ficar farto dos corporativismos a qualquer preço que só atrasam o país. Agora é a vez dos patrões das PMEs. Como sabemos, em Portugal, uma grande fatia do empresariado sempre se preocupou muito mais em reduzir custos do que em investir proveitos em novas tecnologias e em criatividade. Claro que existiram várias e boas excepções a esta regra mas o presidente da associação das PME parece ser representativo das empresas ainda geridas "à moda antiga". Acontece que a Alemanha, a França ou a Espanha têm salários mínimos muito mais altos do que Portugal e são extremamente competitivas, portanto tenho a certeza que as empresas portuguesas conseguem ser competitivas com salários mínimos a 450 euros. Tenho a certeza que isso vai forçar muitos empresários a começar a repensar o velho modelo de se serivrem do capital humano intensivo a baixos custos como forma de ser competitivo mas isso só pode tornar o nosso país como um todo mais evoluído no futuro.

Como diz o Eduardo Pitta: "está em causa um modelo que amarra o país ao passado com o argumento de que é melhor haver empregos assim do que não haver empregos nenhuns." E destes empregos diz muito bem "Há uns meses, muitos portugueses terão ficado surpreendidos com o facto de 35 por cento dos pobres identificados num estudo de Alfredo Bruto da Costa viverem dos rendimentos do seu trabalho.[...]e não custa advinhar que a maioria faz parte dessa legião de assalariados que recebem 426 euros de salário mínimo."

29/10/2008

A primeira declaração com nova ortografia

Aí está a primeira declaração entre Portugal e Brasil escrita com as novas regras ortográficas.

Nele, Lula da Silva e José Sócrates, comprometem-se a "envidar esforços para promover a adoção da língua portuguesa em foros multilaterais".

26/10/2008

A compilação noticiosa do negativo

Acho que só a SIC e a TVI ainda não perceberam o ridículo da ideia de fazer um noticiário que seja essencialmente uma compilação do que de negativo acontece no mundo e no país. Até a RTP já mudou o disco e, mesmo que digam que isso possa ser por ser do Estado, prefiro assim.

Como diz o Possidónio e muito bem " Sim, morreram pessoas hoje na estrada, mas também gente escapou com vida por causa de um novo tipo de intervenção. Sim, o sistema financeiro está em dificuldades, mas também sim, houve obras sociais que foram bem sucedidas a ajudar quem mais precisava. Sim, o país é uma merda. Mas sim, o meu país tem sol e gente que insiste em fazer o bem."

É que além de só se ensinar às pessoas como se conseguem resultados maus numa série infinita de situações, já satura. Estou de acordo com o boicote, Possidónio! Aliás, já o pratico. E também confesso estar um pouco farto de ver sempre as mesmas caras atrás das câmaras a comentar e a discutir tudo... fico contente quando vejo uma cara nova nesses papéis, uma lufada de ar fresco! Não digo que se erradicasse todos os que sempre aparecem mas façam um esforço por convidar gente nova para discutir os problemas do país e do mundo. Queremos ouvir mais opiniões.

25/10/2008

Apresentação do Poker no Porto

O essencial sobre a apresentação do Poker que decorreu hoje na Livraria Latina está todo aqui brilhantemente contado.

20/10/2008

Burn After Reading

Por vezes sabe muito bem ver destes filmes, simplesmente diferentes. Um argumento como só os imãos Cohen conseguem ser suficientement loucos para escrever e para realizar. As interpretações de Brad Pitt, George Clooney, Frances McDormand e John Malkovich fazem o resto. E, contudo, é um filme simples. Gostei.

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13/10/2008

Diferenças entre bancos e contribuintes

As pessoas quando precisam de dinheiro vão ao banco mendigar um empréstimo e esperam o tempo que fôr preciso por todas as burocracias, os bancos quando precisam de dinheiro vão buscá-lo ao bolso dos contribuintes e dizem que é urgente, não há tempo a perder. Nem referendos houve para consultar europeus ou americanos, foi-se logo buscar o dinheiro para os pobres dos bancos em falência.

Nunca veremos estes milhões distribuídos pelo povo!

De tanto em tanto tempo, vem um dia em que parece que os mercados gritam em uníssono: "Acabou a crise!". Hoje foi um desses dias sublinhado pelo maior ganho de pontos no Dow Jones de sempre. Parece que a Europa salvou o dia com a sua fabulosa ideia de ser fiadora dos bancos caídos em desgraça e de os nacionalizar com a ideia de que é o contribuinte que está a investir neles para um dia mais tarde os vender mais caros.

Duvido que o contribuinte algum dia veja a cor desses ganhos. De qualquer forma as perdas chegarão com certeza mais depressa do que os ganhos. É sempre assim. E se tudo o resto falhar, se os grandes cérebros do mundo financeiro mundial se tornarem apenas génios na medida extrema da sau ganância, então nesse caso vai-se ao bolso do Zé Povinho sugar-lhe um pouco mais de dinheiro.

Para quando um plano para resolver os problemas da economia real, para quando um plano de tantos milhões para que o povo deste mundo viva todo melhor? Já ouvi dizer que o valor total do Plano Paulson é igual ao de distribuir 14,000 dólares por cada americano. O valor total agora falado no Plano europeu ao que parece é maior do que isso. Arrisco dizer que nunca veremos um valor desse tipo algum dia ser distribuído pelos europeus seja em que situação fôr, nem que estejamos todos a morrer à fome.

07/10/2008

Camp Bondsteel: os americanos no Kosovo

Com um nome que parece saído de um filme do James Bond, Camp Bondsteel, base americana no Kosovo já chamada de versão mais pequena de Guantânamo, está lá no Kosovo, no centro das atenções. O Carlos Narciso mostra vários pormenores interessantíssimos sobre esta base americana caríssima, como estes que aqui cito:

"Camp Bondsteel é a prova de que os EUA não deverão sair tão cedo do Kosovo. A construção daquela base custou uma fortuna."

"São centenas de hectares, de aquartelamentos, lojas, cinemas, ginásios, restaurantes (entre os quais um Burger King), oficinas, pistas de aviação para helicópteros e aviões, campos de tiro, estabelecimento prisional também, segundo consta, whatever..."

Escusado será dizer que sou mais um dos decepcionados com o recente reconhecimento da independência do Kosovo por parte do Governo português. É isto a NATO. Apoio incondicional aos objectivos geopolíticos dos Estados Unidos em troca do seu apoio militar ou talvez seja apenas em troca de não o ter como inimigo.

03/10/2008

Orquestra toca 5ª Sinfonia de Beethoven no Metro do Porto

Aqui está o artigo completo. O Porto precisa de mais destas iniciativas.

02/10/2008

Literatura Americana vs Literatura Europeia segundo a Fundação Nobel

Tenho tendência a achar muito disparatadas quaisquer comparações deste modo tão generalista, americanos versus europeus, ou chineses versus russos, etc. Mas, seja como fôr, essas comparações vão sempre existir, tendo por base uma mera comparação de estereótipos que pouco serve o assunto em causa. O resultado disso é que, sem nada fazer, é-se imediatamente rotulado à priori, por ser desta ou daquela nacionalidade, o que muitas vezes resulta em discriminações e até desastres humanitários.

Desta vez é o membro principal do júri do Prémio Nobel, Horace Engdahl a fazê-lo. Diz o senhor que não é coincidência nenhuma que a maioria dos prémio nobéis fiquem para escritores europeus já que a literatura americana ainda está muito longe do nível da literatura europeia (pois o facto de ser uma Academia Europeia também me parece que pode pesar e muito na dispersão geográfica dos prémios).

O estereótipo que se pretende aqui alimentar é que os americanos são ignorantes e os europeus é que são os verdadeiros intelectuais deste mundo. Diga-se de passagem que esse estereótipo já vingou entre grande parte dos europeus. Favorece aquele sentimento de que podemos não ser os mais ricos ou os mais avançados mas somos ainda os mais intelectuais, os mais iluminados. Isso conforta uma certa franja de europeus elitistas e garante-lhes o seu espaço, de onde podem assim ditar quem é que é bom ou mau escritor, um poder que lhes agrada.

Aqui ficam os comentários do Sr. Engdahl (retirados deste artigo da Associated Press):

Speaking generally about American literature, however, he said U.S. writers are "too sensitive to trends in their own mass culture," dragging down the quality of their work.

"The U.S. is too isolated, too insular. They don't translate enough and don't really participate in the big dialogue of literature," Engdahl said. "That ignorance is restraining."

© Gonçalo Coelho