30/01/2007

O significado do voto a favor da despenalização da IVG até às dez semanas

O referendo sobre o aborto está agora a apenas 2 semanas de distância e assiste-se a um intensificar da esgrima de argumentos entre o lado do Sim e o lado do Não.
O argumento mais sensacionalista do Não, contudo, é provavelmente aquele que colhe mais votos no momento e consiste apenas em dizer que quem é pelo Sim é a favor do aborto. Ora, isto não corresponde à verdade. Quem votar Sim no referendo que se aproxima estará a concordar unicamente que as mulheres que realizem a interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas de vida do feto não sejam acusadas nem eventualmente punidas criminalmente. Isto abre um espectro novo de possibilidades, no entender dos partidários do Sim, desde logo reduzindo drasticamente o aborto clandestino e sem o aconselhamento adequado. Veja-se o caso da despenalização do consumo de drogas leves na Holanda. Quem conhece um pouco a Holanda saberá que os holandeses não são a favor do consumo de drogas e que, inclusivé, olham, na sua maioria, com desdém para os inúmeros turistas que visitam o seu país para passar um fim-de-semana ou uma semana inteira drogados. A única conclusão a que os holandeses chegaram é que não fazia sentido, para eles, acusar e punir criminalmente todos os consumidores de drogas leves. Ou seja, essa prática continua a ser moralmente condenável pela sociedade mas deixou de ser matéria de responsabilização criminal. Assim, surgiu um mundo novo de possibilidades legislativas e um mundo novo de potencial apoio, protecção e aconselhamento. Isto não significa que se incite as drogas, significa que há o desejo de abrir um mundo de novas possibilidades para lidar com o problema.
Votar Sim à despenalização da IVG no próximo referendo em Portugal, significa meramente abrir uma porta e passar a viver num mundo que contém adicionalmente aquele espaço para lá da porta que antes se encontrava inacessível, ao passo que votar Não significa fechar essa porta.

23/01/2007

A hora H, a hora do PAC e a hora do QREN

É interessante ver como Portugal e Brasil se encontram practicamente ao mesmo tempo chegados à hora H da sua história moderna. Em Portugal chegou a hora do QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional). É o terceiro pacote de fundos provenientes da União Europeia para modernizar o país. É o grande momento para Portugal sair da crise em que se encontra. No Brasil o momento é muito semelhante. Chegou a hora do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Os factores conjugam-se para que o Brasil desponte finalmente para deixar de ser a eterna potência emergente e assuma, de facto, o seu lugar no mundo como grande potência económica e política a nível mundial ao lado da Índia e da China, acabando com a noção de uma potência única e hegemónica que caracterizou o mundo geopolítico desde o final da guerra fria. Em ambos os casos, é muito importante que portugueses e brasileiros acreditem que podem ser melhores, que podem fazer tudo o que faziam até aqui de forma melhor e que podem e devem ter uma vida melhor. Os Governos por seu lado têm de motivar e criar as condições certas. Isto significa que o Governo tem de enviar os sinais certos para o povo, o que implica entre outras coisas, enviar sinais que o próprio Governo acredita que pode fazer mais e melhor em todos os campos da sua competência. Governo e população devem formar uma simbiose, uma sinergia que faça crescer o desenvolvimento.
Finalmente, parece óbvio, pelas ligações especialmente fortes e sólidas entre Portugal e Brasil e pelo momento actual das suas histórias que ambos devem deesenvolver uma cooperação estratégica, bem ao estilo da ideia preconizada pelo Prof. Cavaco Silva e que, embora pareça simples, é uma ideia de enorme valor.

Segue o link para o video da Globo com o discurso do Presidente Lula onde pede participação da sociedade na apresentação do PAC:
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM624909-7823-PAC+LULA+PEDE+PARTICIPACAO+DA+SOCIEDADE,00.html

19/01/2007

Samba no Mercosul - Que maravilha é o Mercosul em comparação com a UE!


Não deixa de ser engraçado para quem viu tantas reuniões da União Europeia em Bruxelas, ver imagens de Evo Morales a correr na praia de Copacabana, ou os presidentes dos países sul-americanos assistindo a um grupo de samba por ocasião de um encontro dos presidentes dos países do Mercosul. Por aí se consegue logo detectar inúmeras diferenças culturais entre a Europa e a América do Sul. Mesmo assim, prefiro as reuniões do Mercosul às da UE. Ah o sol de Copacabana! Que horror a chuva e o frio de Bruxelas! Ah o colorido e a magia de Ipanema! Que horror as ruas e os prédios cinzentos de Bruxelas!

Nítidamente o Presidente Hugo Chavez tem um discurso que não favorece uma integração sul-americana saudável, voltada para o desenvolvimento de um bloco geo-estratégico como o Mercosul. A América do Sul precisa de sair das garras da eterna dicotomia entre ser amigo ou ser inimigo dos Estados Unidos. O continente não pode continuar a viver pensando apenas na grande superpotência americana. Tem que pensar em si próprio e, para si próprio, há valores que são vitais como a democracia. Hugo Chavez não valoriza a democracia nos seus discursos políticos, não valoriza o diálogo. O Presidente da Venezuela não pode ser o grande representante da América do Sul porque, o único regime que, por ventura, se alinha pela ideologia de Hugo Chavez é a Bolívia actualmente. Todos os outros estão numa outra linha. O que fortalece políticos como Hugo Chavez é inoperância dos seus opositores políticos, a sua eterna tendência para problemas como a corrupção, a sua falta de iniciativa e, principalmente, a falta de sucesso no que toca a criar países na Amércia Latina mais desenvolvidos e melhores condições de vida para os seus cidadãos. Enquanto os opositores do populismo não trabalharem a sério com o sólido propósito de desenvolver os seus países, estarão a dar força e poder a Hugo Chavez. Só eles poderão ser considerados culpados se o sucesso do populismo crescer. É a inoperância dos bons que leva ao sucesso dos maus em última análise. E aqueles que sabem o que querem para os seus países não podem ficar só de braços cruzados, esperando o dia mítico do milagre económico mas têm de procurar melhorar activamente tudo o que está ao seu alcance. Só assim se poderá construir uma Amércia Latina melhor.

18/01/2007

"Gig in the Sky" - Jamiroquai vai tocar a 35 mil pés de altura na Alemanha

"Ninguém jamais fez um show como este antes", disse Jay Kay ao tablóide "The Sun". "Rock 'n' roll tem a ver com quebrar barreiras e a 'Gig in the Sky' é isso." A ideia é entrar para o livro de records do Guiness tocando o "groovy" acid jazz que tornou a banda um sucesso no mundo inteiro, para cerca de 200 pessoas a bordo de um Boeing 757 a 35 mil pés de altura. O "Gig in the Sky", assim se intitula este espectáculo, irá descolar da capital alemã da Baviera, Munique, no dia 21 de Fevereiro.
Aqui fica um vídeo demonstrativo do poder do ritmo e do acid jazz de Jamiroquai em "don't give hate a chance" ao vivo.

13/01/2007

Visita à Índia


A actualidade da semana em Portugal foi dominada pela viagem da comitiva presidencial à Índia. Uma questão que tem sido muito comentada (Miguel Sousa Tavares, Pacheco Pereira, para dar apenas dois exemplos) é o facto da comitiva ser esmagadoramente dominada por empresários e, por ventura, ter-se perdido uma grande oportunidade de divulgar a cultura portuguesa levando mais alguns ilustres representantes da cultura lusa. Pois bem, qual é o maior problema nacional? A economia. É a economia, ou seja, a falta de dinheiro no bolso da maioria dos portugueses, aquilo que nos leva a pensar que estamos em eterna crise. Então, fará sentido pensar na economia e apostar unicamente nela em visitas de Estado? Com certeza que faz sentido apostar na Economia mas ela não é incompatível nem dissociável do lado cultural. Em mais de 130 convidados que contituíram esta comitiva não teria ficado nada mal apostar mais na cultura sendo que a cultura também tem a sua economia própria. O grande trunfo económico que o Presidente da República levou para à Índia foi o grande valor da língua portuguesa, ou seja, um trunfo que provém da cultura. Nesse sentido, fez sentido que a fadista Kátia Guerreiro fizesse parte da comitiva, pois o Fado tambem vende bem em todo o mundo. Mas os livros, assim como muitas outras formas de arte tambem vendem e não só vendem, como divulgam a imagem de um país. Além do mais, o valor da língua portuguesa é valorizado hoje através da arte de Camões, por exemplo. Diz-se da língua portuguesa que é a língua de Camões. Essa é a imagem de marca da língua portuguesa por todo o mundo. É bom que se entenda que a arte também tem o seu valor económico para além do valor cultural e Portugal precisa de fazer germinar novos valores artísticos no estrangeiro para que não fiquemos eternamente só pelo Camões. É vital que entendamos que a arte de um país é o espelho do país e, se não mostramos novos artistas, novos autores ao mundo, o mundo vai ficar eternamente com a ideia de que ainda somos o país do Fado, de Fatima e do Futebol, do Camões, do Salazar, do folclore. No Brasil, Angola e outros países de língua oficial portuguesa ainda hoje lutamos para mudar a imagem do Portugues antiquado, salazarista. Aqui em Portugal, sabemos que esse Portugal caiu como cai a pele dos reptéis e apareceu um novo Portugal pós-Salazarista, moderno, com toda uma nova geração que ainda não tomou todos os lugares de poder mas aos poucos tomará, pela ordem natural das coisas. Enquanto isso lá fora, no estrangeiro a nossa imagem permanece imutável porque a nossa cultura, o espelho do novo Portugal, não chega lá fora. É preciso entender que a imagem de Portugal não se muda só com o Futebol. Aposte-se nas artes plásticas e na literatura uma parcela mínima do que se apostou no Futebol e a imagem de Portugal mudará, gradualmente, da imagem do Portugal Salazarista para a imagem de um país aberto à modernidade e aberto à interacção multi-cultural do novo Mundo globalizado. Esta imagem é essencial para e nossa Economia. A imagem tem um valor inestimável nos dias de hoje. A Marca Portugal se lhe quiserem chamar assim, tem um valor inestimavel e a cultura tem que fazer parte de uma estratégia de Marca Portugal. Não ver isso é um erro lamentável. Continuar a divulgar só o Fado e o Futebol como imagem de Portugal é um erro lamentável. Até porque Portugal, o Portugal de hoje, é muito mais interessante do que isso e os outros países precisam de saber disso. Os próprios portugueses precisam de saber disso com mais frequência.

12/01/2007

O problema fundamental do pagamento de impostos

Qual é o problema fundamental do pagamento de impostos? O destino desses impostos. Senão vejamos: quando alguém paga impostos o que acontece? Há dinheiro que os cidadãos de um determinado país pagam, que sai do seu bolso, dos seus rendimentos, e vai para o Estado para ser admnistrado pelos Serviços Cetrais do Estado ou pelo poder local. Vejamos um caso prático. Um cidadão tem um problema na sua casa, pede o auxílio de alguém para reparar o problema. Aparece então um técnico que faz a reparação. O cidadão pede o recibo. O técnico diz: "Sim, senhor, eu posso passar um recibo. O dinheiro que o senhor vai pagar a mais vai para o Estado, não é para mim, por isso é-me perfeitamente indiferente." Perante estas palavras o cidadão resolve esquecer o recibo, natutralmente. Naturalmente, porquê? Porque o cidadão sabe que aquele dinheiro que vai dar ao Estado nunca mais voltará para o seu bolso. O cidadão olha para as notícias da actualidade política e diz para consigo, aqui em Portugal como no Brasil, que o dinheiro dos impostos vai para os empregos com salários chorudos para quem é do partido do poder. Para deputados, senadores, adminstradores de empresas públicas, governadores, presidentes de camara ou prefeitos, corrupção, pagamento de favores, negócios escuros e talvez uma boa percentagem vá para o bem público geral. Por isso o cidadão foge aos impostos e paga aquilo que é obrigado de má vontade. O problema fundamental do pagamento de impostos é a credibilidade dos políticos, em suma. E não há outro remédio para este mal a não ser os políticos darem o exemplo e lutarem por obter mais credibilidade através das suas acções. A boa Moeda tem que eliminar a má Moeda.

11/01/2007

Breves: TVCabo (saudades do GNT...)

Quando será que volta o GNT? Será que ainda não deu para perceber o descontentamento e a desilusão dos clientes da televisão por cabo com a substituição do GNT pela TV Record? O que aconteceu à velha máxima de satisfazer os clientes? Já há muito que deu para ver que todos ficavamos mais bem servidos se o GNT voltasse a grelha de canais da TV por cabo. O que falta mais para mudar?

07/01/2007

O Vendedor de Passados (José Eduardo Agualusa) e o Chão de Giz

Atenção: Este texto que se segue é uma confusa amálgama de pensamentos, do tipo que só acontece quando pomos em palavras exactamente o que nos passa pela cabeça. Prossiga a sua própria conta e risco!

Antes que alguém comece a pensar que isto é realmente confuso, devo assumir que não é tanto assim. Existe um fio condutor deste texto: O Vendedor de Passados (livro de José Eduardo Agualusa) e Chão de Giz (música que estou a ouvir neste momento cantada por Zé Ramalho e Elba Ramalho). Acabei há algumas horas o livro e aptece-me dizer que é fruto de bastante imaginação e criatividade. Esses são dois dos factores que mais me agradam na literatura.
No livro há uma osga que foi um homem numa vida passada e que, em sonhos, é um homem e conversa com outros homens. Os sonhos são o seu escape, no fundo, do corpo limitativo de osga. Os sonhos são, no fundo, o nosso escape da limitativa vida real. Numa parte da narratvia isto é enfatizada pelas palavras da Mãe que diz ao filho que a realidade se distingue do sonho pelo seu lado irremediavelmente doloroso. Ora, nos sonhos tudo se remedeia...É aí que surge também o conceito da mentira como algo que enriquece a realidade. É dito, algures no livro, que a mentira é o ofício de muitos como, por exemplo, políticos, advogados e escritores. O escritor é, assim, o arauto da mentira e do sonho porque precisamos de ambos para enriquecer a realidade. Parece-me um bom ofício o de escritor: salvar o mundo da verdade nua e crua da realidade! (devo acrescentar, em nome próprio, que a realidade contém em si imensa beleza, na natureza como nos próprios seres humanos mas, em todo o caso, ela fica indubitavelmente mais bela se lhe acrescentarmos umas pitadas de maravilhosas e idílicas mentiras e alguns sonhos temerários, sem duvida! E que isto seja o mote para o leitor levantar por uns momentos os pés da Terra, descolar, voar e ficar a vaguear o tempo que quiser por este ou por outros mundos desconhecidos!)

02/01/2007

Breves: Saddam + tvi: resultado, o absurdo

A TVI apesar de tudo ainda consegue surpreender pela sua audácia comercial. No dia da execução de Saddam Hussein a TVI abre o telejornal da hora do almoço com imagens integrais do momento da execução, onde podemos seguir todos os mórbidos segundos do acontecimento. No dia seguinte, à hora do jantar, a TVI apresenta uma reportagem sobre Saddam Hussein como homem de família, que contava histórias de crianças aos netos e outras miudezas enternecedoras da vida privada do ex-ditador iraquiano.
Tenho que admitir que a TVI leva o expectador a todos os extremos dos sentimentos que o sensacionalismo pode proporcionar nos noticiários dos dias de hoje! Parabéns!
© Gonçalo Coelho