13/01/2007

Visita à Índia


A actualidade da semana em Portugal foi dominada pela viagem da comitiva presidencial à Índia. Uma questão que tem sido muito comentada (Miguel Sousa Tavares, Pacheco Pereira, para dar apenas dois exemplos) é o facto da comitiva ser esmagadoramente dominada por empresários e, por ventura, ter-se perdido uma grande oportunidade de divulgar a cultura portuguesa levando mais alguns ilustres representantes da cultura lusa. Pois bem, qual é o maior problema nacional? A economia. É a economia, ou seja, a falta de dinheiro no bolso da maioria dos portugueses, aquilo que nos leva a pensar que estamos em eterna crise. Então, fará sentido pensar na economia e apostar unicamente nela em visitas de Estado? Com certeza que faz sentido apostar na Economia mas ela não é incompatível nem dissociável do lado cultural. Em mais de 130 convidados que contituíram esta comitiva não teria ficado nada mal apostar mais na cultura sendo que a cultura também tem a sua economia própria. O grande trunfo económico que o Presidente da República levou para à Índia foi o grande valor da língua portuguesa, ou seja, um trunfo que provém da cultura. Nesse sentido, fez sentido que a fadista Kátia Guerreiro fizesse parte da comitiva, pois o Fado tambem vende bem em todo o mundo. Mas os livros, assim como muitas outras formas de arte tambem vendem e não só vendem, como divulgam a imagem de um país. Além do mais, o valor da língua portuguesa é valorizado hoje através da arte de Camões, por exemplo. Diz-se da língua portuguesa que é a língua de Camões. Essa é a imagem de marca da língua portuguesa por todo o mundo. É bom que se entenda que a arte também tem o seu valor económico para além do valor cultural e Portugal precisa de fazer germinar novos valores artísticos no estrangeiro para que não fiquemos eternamente só pelo Camões. É vital que entendamos que a arte de um país é o espelho do país e, se não mostramos novos artistas, novos autores ao mundo, o mundo vai ficar eternamente com a ideia de que ainda somos o país do Fado, de Fatima e do Futebol, do Camões, do Salazar, do folclore. No Brasil, Angola e outros países de língua oficial portuguesa ainda hoje lutamos para mudar a imagem do Portugues antiquado, salazarista. Aqui em Portugal, sabemos que esse Portugal caiu como cai a pele dos reptéis e apareceu um novo Portugal pós-Salazarista, moderno, com toda uma nova geração que ainda não tomou todos os lugares de poder mas aos poucos tomará, pela ordem natural das coisas. Enquanto isso lá fora, no estrangeiro a nossa imagem permanece imutável porque a nossa cultura, o espelho do novo Portugal, não chega lá fora. É preciso entender que a imagem de Portugal não se muda só com o Futebol. Aposte-se nas artes plásticas e na literatura uma parcela mínima do que se apostou no Futebol e a imagem de Portugal mudará, gradualmente, da imagem do Portugal Salazarista para a imagem de um país aberto à modernidade e aberto à interacção multi-cultural do novo Mundo globalizado. Esta imagem é essencial para e nossa Economia. A imagem tem um valor inestimável nos dias de hoje. A Marca Portugal se lhe quiserem chamar assim, tem um valor inestimavel e a cultura tem que fazer parte de uma estratégia de Marca Portugal. Não ver isso é um erro lamentável. Continuar a divulgar só o Fado e o Futebol como imagem de Portugal é um erro lamentável. Até porque Portugal, o Portugal de hoje, é muito mais interessante do que isso e os outros países precisam de saber disso. Os próprios portugueses precisam de saber disso com mais frequência.

1 comentário:

PoesiaMGD disse...

É isso mesmo! Os portugueses têm que saber! É que não sabem mesmo! Parabéns pelo texto! Aliás,você escreve muitíssimo bem!

© Gonçalo Coelho