Entretanto, na Bélgica, os municípios são livres de impôr a proibição, vários baniram já o uso das burqas e véus ou decidiram cobrar multa a quem os use. O argumento aí é o de que a referida peça de vestuário causa insegurança e intimidação nas ruas ao encobrir e impossibilitar a total visão do rosto da pessoa. Já em França, os argumentos que levam à proibição são que deve ser preservado o valor da laicização e também de que as burqas e véus são símbolos de subserviência das mulheres não coincidentes com a cultura francesa. Enquanto a polémica avança, a vaga parece crescer no sentido da proibição da utilização de véus em locais públicos por toda a Europa e, não seria de admirar que também a Portugal chegasse essa proibição, tal como chegou a de fumar ou a despenalização do aborto. Como sempre, o nosso bloco central apoiará o que se fôr fazendo por toda a Europa e quem discordar será um radical, tendo que contar apenas com o apoio do Bloco de Esquerda. No entanto, aqui fica desde já um relato engraçado que encontrei de uma norte-americana que afirma ter adorado a obrigatoriedade de usar o véu na Arábia Saudita sempre que saía de casa. Diz que andando toda coberta da cabeça aos pés se sentia mais igual às demais e sentia que, finalmente, a sua carreira profissional deixava de assentar, fosse o que fosse, nos seus atributos físicos como acontece nas sociedades Ocidentais.
30/07/2008
O véu (crónica de 22/07/2008)
A Turquia, país onde o embate civilizacional é grande e onde Estado e religião se encontram separados desde os tempos de Ataturk é, provavelmente, o país onde Este e Oeste do mundo terão de dar a primeira grande prova a todo o mundo de que podem conviver lado a lado debaixo de uma única identidade nacional moderada e própsera. Dito isto, uma grande parte dos turcos moderados, receia acima de tudo que algum dia se possa regressar aos dias do Império Otomano ou a qualquer tipo de estrutura civilizacional que se pareça ou incline minimamente para os extremos de países como a Arábia Saudita ou o Irão onde, por exemplo, qualquer mulher que saia à rua tem está obrigada a vestir a burqa ou o véu, tudo depende se quer ou não cobrir também os olhos. No âmbito das suas múltiplas reformas, Ataturk alterou a face do país e o véu foi visto como um obstáculo à secularização e à modernização. Hoje em dia, véus e burqas não são perimitidos em locais públicos na Turquia como univesidades ou tribunais, de modo a impedir impreterivelmente o regresso aos anos do islão obscuro. Em 1998, foi banida uma estudante turca da Universidade de Istanbul precisamente porque os usou. Em 2000, há o caso de outra estudante condenada a seis meses de prisão por “obstruir a educação dos outros” ao ter usado véu nos exames finais. Já no decorrer deste ano de 2008, o parlamento turco passou uma emenda à constituição que permitia a utilização de véus nas universidades com o argumento de que muitas mulheres estariam a fugir às universidades. Meses depois, o Tribunal Constitucional da Turquia deu voz aos muitos turcos que se haviam demonstrado contra a emenda e, com base na necessidade suprema de laicização, o dito tribunal retirou a emenda.
15/07/2008
10 questões urgentes a debater sobre os media em Portugal
Está a tardar um grande debate sobre o jornalismo em Portugal e sobre o papel dos media. Um debate aberto a todos os portugueses, talvez no formato Prós e Contras ou noutro semelhante. Aqui ficam 10 questões que urge debater:
1. Qual o papel da investigação jornalística nos dias de hoje? Porque há tão poucas peças de investigação jornalística hoje em dia?
2. Porque se repetem tanto as notícias de uns canais para os outros e se multiplicam tanto as opiniões?
3. Qual o papel pedagógico que os media devem assumir nos dias de hoje no nosso país?
4. Porque se encontra tão reduzido esse papel nos telejornais e nas grelhas programáticas actuais? Como combater esses problemas?
5. Qual o lugar do sensacionalismo? Aonde devem situar-se os limites?
6. Até que ponto o jornalismo de hoje vende o medo, o pessimismo ou o cepticismo e como pode isto ser combatido?
7. Poderá a classe jornalística combater as constantes devassas do segredo de justiça que mancham a imagem da Justiça Portuguesa? Que medidas pode e deve tomar?
8. Como deve o jornalismo encarar o futebol?
9. Qual o papel da televisão pública e qual o das privadas?
10. Quais devem ser as linhas fundamentais para um jornalismo de qualidade no século XXI?
Este debate seria benéfico para todo o país dado o papel importantíssimo dos media em Portugal, mostraria como os jornalistas enquanto classe têm a qualidade e a humildade de discutir e de expôr os seus problemas na TV (como fazem aliás outros grupos profissionais) e seria uma forma também de os portugueses em geral ficarem com uma melhor imagem dos jornalistas.
1. Qual o papel da investigação jornalística nos dias de hoje? Porque há tão poucas peças de investigação jornalística hoje em dia?
2. Porque se repetem tanto as notícias de uns canais para os outros e se multiplicam tanto as opiniões?
3. Qual o papel pedagógico que os media devem assumir nos dias de hoje no nosso país?
4. Porque se encontra tão reduzido esse papel nos telejornais e nas grelhas programáticas actuais? Como combater esses problemas?
5. Qual o lugar do sensacionalismo? Aonde devem situar-se os limites?
6. Até que ponto o jornalismo de hoje vende o medo, o pessimismo ou o cepticismo e como pode isto ser combatido?
7. Poderá a classe jornalística combater as constantes devassas do segredo de justiça que mancham a imagem da Justiça Portuguesa? Que medidas pode e deve tomar?
8. Como deve o jornalismo encarar o futebol?
9. Qual o papel da televisão pública e qual o das privadas?
10. Quais devem ser as linhas fundamentais para um jornalismo de qualidade no século XXI?
Este debate seria benéfico para todo o país dado o papel importantíssimo dos media em Portugal, mostraria como os jornalistas enquanto classe têm a qualidade e a humildade de discutir e de expôr os seus problemas na TV (como fazem aliás outros grupos profissionais) e seria uma forma também de os portugueses em geral ficarem com uma melhor imagem dos jornalistas.
14/07/2008
Saudades do tempo de Clinton e Ieltsin
George W. Bush resolveu há uns tempos atrás colocar uma linha de mísseis anti-míssil na Polónia e na República Checa. Agora, vemos que a Rússia vetou as sanções sobre o Zimbabué no Conselho de Segurança da ONU e que a Gazprom celebra mais acordos para prospecção e produção de petróleo e gás natural no Irão. O maravilhoso clima de paz e de boa disposição dos tempos de Clinton e Ieltsin, transformou-se no tempo cinzento de Bush e Putin. Em recordação dos velhos tempos, aqui deixo uma fotografia famosa. Bons tempos esses! O mundo andava bem mais seguro e próspero.
09/07/2008
Crónicas do Janeiro - Cegueira
( Crónica desta terça no Primeiro de Janeiro e agora, lida também aos Domingos à noite, na Algarve FM, no programa Lusitânia Expresso, agradecimentos ao António Murtosa )
****
Para efeitos únicos desta crónica e correndo o risco de nesta premissa inicial ser pouco original, imagine o leitor que, a certa altura, no nosso país, surgiu uma epidemia de cegueira, epidemia esta que, um pouco à imagem da metáfora de Saramago (Ensaio sobre a Cegueira), consiste numa escolha de valores e de regras de vida que levem a ignorar toda a dimensão humana do outro com quem nos cruzamos diariamente, a ignorar o valor da meritocracria, o valor de dar sempre uma oportunidade a todos, o valor da existência de regras em sociedade, o valor da justiça, da solidariedade, e tantos outros que têm de existir lado a lado com a iniciativa e com a ambição de conseguir mais e melhor para si e para todos à volta, sendo que uns têm de temperar os outros para que as rodas da sociedade nos levem a algum lado em vez de simplesmente atropelar e trocidar a maioria. Claro, tudo isto cai por terra quando o primeiro descobre que, subvertendo apenas alguns destes valores, a sua vida progride enormemente ao contrário da dos outros. Uma corrupçãozinha, um favorzinho, um pequeno tráfico de influências, um ganho de audiência à custa da desgraça ou da futilidade alheia, enfim, um belo salto na carreira ou na fortuna, cometendo-se apenas um pequeno delito que não fará mal a ninguém. É talvez aí que se aloja e começa a progredir o vírus da cegueira, como o fungo na humidade. Ou talvez comece antes a cegueira, quando nos batem nos olhos, desde crianças, imagens dos telejornais, plenas de uma realidade cruel, repletas de gente que sofre: pessoas a morrer à fome em estado lastimável, guerras em directo assistidas a partir do sofá como se de partidas de futebol se tratassem, milhares de pessoas a chorar e a lamentar incêndios nas suas casas, ou terremotos, ou familiares mortos nos acidentes de viação ou de comboio, ou atentados à bomba que vitimam outros milhares todos os anos, em nome desta ou daquela causa que para nós nunca valeu nada. Talvez seja aí que começamos a ser “cegados”, a habituar-nos a ver e a não reparar, a ignorar o interior dos outros, porque realmente perante a evidência nua e crua das televisões nada podemos fazer para ajudar quem está do outro lado do écran. Da habituação ao sofrimento nos telejornais à habituação à realidade das ruas, diante dos nossos olhos, vai um curto passo. O seguinte é ignorar os concidadãos, os vizinhos, os familiares. Passa depois por ignorar o lado interior humano de todos e cada um de nós trocando o que somos por uma imagem mental que lhe toma o lugar e na qual constam alguns items de maior importância, a saber, salário estimado, marca e modelo do carro, casa onde mora, roupa que veste, título profissional, e, por fim, a quantidade de músculos, de curvas ou de gordura no corpo. Esta cegueira não é negra, é colorida, como o mar de leite da imaginação de Saramago onde as cores se fundem numa única que cega: os reclames, as revistas, as TVs, as marcas, os slogans, todos os produtos, todos os preços e, consequentemente, as nossas frustrações ou prazeres consoante aquilo que o dinheiro nos comprar. Certamente não faltará quem diga que é desta cegueira que emanam todos os problemas do nosso Portugal. E, dirão, se o problema não é maior é porque há quem não esteja cego, dê o braço e ajude a guiar os demais cegos ao seu caminho porque lá diz Saramago que há uma coisa chamada “a responsabilidade de ter olhos quando outros os perderam”.
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Para efeitos únicos desta crónica e correndo o risco de nesta premissa inicial ser pouco original, imagine o leitor que, a certa altura, no nosso país, surgiu uma epidemia de cegueira, epidemia esta que, um pouco à imagem da metáfora de Saramago (Ensaio sobre a Cegueira), consiste numa escolha de valores e de regras de vida que levem a ignorar toda a dimensão humana do outro com quem nos cruzamos diariamente, a ignorar o valor da meritocracria, o valor de dar sempre uma oportunidade a todos, o valor da existência de regras em sociedade, o valor da justiça, da solidariedade, e tantos outros que têm de existir lado a lado com a iniciativa e com a ambição de conseguir mais e melhor para si e para todos à volta, sendo que uns têm de temperar os outros para que as rodas da sociedade nos levem a algum lado em vez de simplesmente atropelar e trocidar a maioria. Claro, tudo isto cai por terra quando o primeiro descobre que, subvertendo apenas alguns destes valores, a sua vida progride enormemente ao contrário da dos outros. Uma corrupçãozinha, um favorzinho, um pequeno tráfico de influências, um ganho de audiência à custa da desgraça ou da futilidade alheia, enfim, um belo salto na carreira ou na fortuna, cometendo-se apenas um pequeno delito que não fará mal a ninguém. É talvez aí que se aloja e começa a progredir o vírus da cegueira, como o fungo na humidade. Ou talvez comece antes a cegueira, quando nos batem nos olhos, desde crianças, imagens dos telejornais, plenas de uma realidade cruel, repletas de gente que sofre: pessoas a morrer à fome em estado lastimável, guerras em directo assistidas a partir do sofá como se de partidas de futebol se tratassem, milhares de pessoas a chorar e a lamentar incêndios nas suas casas, ou terremotos, ou familiares mortos nos acidentes de viação ou de comboio, ou atentados à bomba que vitimam outros milhares todos os anos, em nome desta ou daquela causa que para nós nunca valeu nada. Talvez seja aí que começamos a ser “cegados”, a habituar-nos a ver e a não reparar, a ignorar o interior dos outros, porque realmente perante a evidência nua e crua das televisões nada podemos fazer para ajudar quem está do outro lado do écran. Da habituação ao sofrimento nos telejornais à habituação à realidade das ruas, diante dos nossos olhos, vai um curto passo. O seguinte é ignorar os concidadãos, os vizinhos, os familiares. Passa depois por ignorar o lado interior humano de todos e cada um de nós trocando o que somos por uma imagem mental que lhe toma o lugar e na qual constam alguns items de maior importância, a saber, salário estimado, marca e modelo do carro, casa onde mora, roupa que veste, título profissional, e, por fim, a quantidade de músculos, de curvas ou de gordura no corpo. Esta cegueira não é negra, é colorida, como o mar de leite da imaginação de Saramago onde as cores se fundem numa única que cega: os reclames, as revistas, as TVs, as marcas, os slogans, todos os produtos, todos os preços e, consequentemente, as nossas frustrações ou prazeres consoante aquilo que o dinheiro nos comprar. Certamente não faltará quem diga que é desta cegueira que emanam todos os problemas do nosso Portugal. E, dirão, se o problema não é maior é porque há quem não esteja cego, dê o braço e ajude a guiar os demais cegos ao seu caminho porque lá diz Saramago que há uma coisa chamada “a responsabilidade de ter olhos quando outros os perderam”.
07/07/2008
Eterna subserviência à UE?
Estamos em crise e uma parte dela são factores externos à Governação. Um deles é a supra-Governação europeia com a sua Política Agrícola Comum, o Pacto de Estabilidade e Crescimento que limita o déficit a 3% e os seus juros cada vez mais altos. No entanto, o nosso Governo actual nada reivindica, a nada se opõe que venha de Bruxelas, pelo contrário empresta até o nome de Lisboa ao Tratado mais recente do qual é um grande entusiasta. Aparentemente, em troca dos subsídios que recebemos, calaremos para sempre tudo o resto que de mal nos façam de Bruxelas e seremos sempre bem comportados e subservientes. União Europeia. O nome diz tudo, união não significa jurar eterna subserviência e bom comportamento. D. Afonso Henriques deve dar voltas no túmulo. Tanto trabalho para nunca mais depender de ninguém e agora, se as coisas continuam a evoluir neste sentido...
06/07/2008
Fotógrafo Cego
Não resisto aqui a divulgar o e-mail que recebi de um grande amigo, o Paulo Melo, que me chamou a atenção para este enigmático fotógrafo cego esloveno:
Evgen Bavcarvia horizonte artificial by Pedro on 6/29/08
É um fotógrafo esloveno, cego desde os 12 anos, que usa óculos com lentes transparentes e um espelho na lapela para compensar o olhar admirador que não pode fazer recair sobre as mulheres. Ele descreve assim a sua técnica:Every photo I take I have to have perfectly organized in my head before shooting. I put the camera at the height of my mouth and that's how I photograph people I hear talking. The autofocus helps, but I can manage without it. It's simple. I measure the distance with my hands and the rest is done by my internal desire for images. I know there are always things that escape me, but that's true of photographers who can physically see. My images are fragile; I've never seen them, but I know they exist, and some of them have touched me deeply. Acho que este "retrato com mãos" é um bom exemplo daquilo que Bavcar fala. Mais do seu trabalho pode ser visto aqui.
Evgen Bavcarvia horizonte artificial by Pedro on 6/29/08
É um fotógrafo esloveno, cego desde os 12 anos, que usa óculos com lentes transparentes e um espelho na lapela para compensar o olhar admirador que não pode fazer recair sobre as mulheres. Ele descreve assim a sua técnica:Every photo I take I have to have perfectly organized in my head before shooting. I put the camera at the height of my mouth and that's how I photograph people I hear talking. The autofocus helps, but I can manage without it. It's simple. I measure the distance with my hands and the rest is done by my internal desire for images. I know there are always things that escape me, but that's true of photographers who can physically see. My images are fragile; I've never seen them, but I know they exist, and some of them have touched me deeply. Acho que este "retrato com mãos" é um bom exemplo daquilo que Bavcar fala. Mais do seu trabalho pode ser visto aqui.
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