29/11/2008

Expresso (des)orient(ado)

Muito interessante e relevante o artigo de Nicolau Santos desta semana no Caderno de Economia. É uma das principais razões pelas quais compro o Expresso. Assim como Miguel Sousa Tavares e outras secções. A de política no caderno principal, porém, noto que vem decaindo de qualidade.

Num artigo intitulado 'Como se derruba um líder', lê-se no subtítulo 'Marcelo na TV, Passos no terreno e Mendes na sombra. Há uma bateria de gente a desfazer Ferreira Leite'

Lá dentro pode ler-se 'O próprio [Pedro P Coelho] deixou antever uma mudança de planos - ou pelo menos de discurso - quando o confrontaram com a decisão do PSD/Braga. Ao contrário do que tinha feito até agora, em que sempre disse ser uma irresponsabilidade antecipar congressos ou mudar de líder antes de 2009, Pedro Passos comentou o avanço de Braga da seguinte forma: "não quero fazer qualquer comentário".'

Ou seja, hoje em dia, mesmo que se diga ao jornalista que não se quer fazer qualquer comentário, ele aproveita para implicar que isso quer dizer qualquer coisa. Acho que quando não se quiser fazer qualquer comentário, para a próxima Pedro Passos Coelho, deve ficar completamente calado. Isso mesmo. Bico fechado. E mesmo assim arrisca-se a que se diga que o seu silêncio quer dizer qualquer coisa... não seria a primeira que tal vejo. Um olhar, um pestanejar, um suspiro, uma pinga de suor, seguindo esta linha de apurada dedução jornalística, pode significar que se avizinha uma guerra qualquer dia...

No mesmo jornal vê-se o título 'Sócrates "manda calar" Ministra'. As aspas são o símbolo do costume a que recorre o mau jornalismo quando quer dizer algo que não é verdade, que manifestamente não aconteceu mas que o jornalista gostaria que acontecesse para que a sua notícia ficasse mais bonita. E, assim, não resiste, à sua maneira, a "embelezá-la" (aqui vão as minhas contra-aspas).

Ainda no Expresso deste sábado, o Ministro da Cultura no seu espaço de direito de resposta no jornal, vem dizer que gravou uma entrevista dada por ele ao Expresso, entrevista também gravada pelo jornal e da qual foram publicadas citações que não correspondem ao que foi por ele dito. Ele gravou e apresenta as evidências. Ainda bem que ele gravou... olha se não gravasse! Fica de aviso a quem dê entrevistas hoje em dia...

Isto tudo, no meu humilde entender, é mau jornalismo por muito que se possa dizer. Felizmente que nem tudo é assim e há ainda bom jornalismo por aí.

Sem comentários:

© Gonçalo Coelho