Numa entrevista com traços perfeitamente inéditos ou, no mínimo originais para uma entrevista televisiva a um Primeiro-Ministro (ou outro qualquer chefe de Estado de qualquer nação) o entrevistado passou em revista de forma detalhada o seu currículo académico, como se de uma entrevista de trabalho se tratasse. Mostrou diplomas académicos, requerimentos, falou dos seus professores e de outras preciosidades como a explicação do cumprimento que gosta para o final das suas cartas: "seu, José Sócrates". Foi assim que o modo de ser da televisão comtemporânea brindou os portugueses com uma entrevista intitulada "2 anos de Governo": com cerca de um quarto do tempo a passar em revista o currículo académico do nosso primeiro-ministro. Mais uma vez imperou a televisão-espectáculo sedente de audiências que garantam a saúde financeira do maior canal público da TV em Portugal. De alguma forma, a população jovem portuguesa, terá, provavelmente, relembrado todas as suas anteriores experiências em entrevistas de trabalho.
No que concerne realmente aos dois anos de Governo, a tarefa saiu até bastante suave e leve para o PM. Questões como a Ota, a reforma da função pública ou outras (a questão do TGV, de enorme importância para o país, por exemplo, foi esquecida por falta de tempo ou por tempo a mais gasto no currículo do PM) careceram de tempo para uma discusão adequada. Provavelmente também devido à ênfase no currículo académico, a entrevista não contou com nenhum entrevistador especialista na área económica, o que poderia trazer bastante interesse acrescido para uma discussão de alguma forma profícua para o aumento do desenvolvimento económico em Portugal. Contas feitas, José Sócrates, segundo vários analistas nacionais o melhor PM de Portugal nos últimos dez anos, limpou a sua imagem e conseguiu mostrar-se determinado, motivado e confiante em seguir a estratégia que o Financial Times hoje elogiou nas suas páginas.
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