De um lado está o conceito da vida e do outro a liberdade. Isto é a questão à superfície. Se observarmos um pouco mais fundo o problema verificamos que o conceito de vida está ligado à vida de um feto de até dois meses e meio enquanto a liberdade de que se fala está ligada a uma liberdade de escolha. À partida, toda a gente preferiria ter as duas e, não, ter de escolher entre uma e outra.
Obviamente, os partidários do Sim não são contra a vida e os partidários do Não não são contra a liberdade de escolha das mulheres. O problema é que se impõe uma decisão difícil algures entre os dois conceitos. Os partidários do Sim optam por um mundo onde nasçam apenas crianças desejadas, acarinhadas e amadas pelos seus pais. Esta ideia nasce do profundo enternecimento ao ver casos de crianças abandonadas, crianças a pedir na rua, enfim, crianças sem infância nem futuro.
Para os partidários do Não, por seu lado, pesa mais a vida do feto que se perde no útero da mãe. Apelam ao direito à vida e receiam que a despenalização só traga consigo a morte de mais fetos até às dez semanas. Dizem: "quando as crianças nascerem, tentaremos ajudá-las", dizem que a Igreja ajuda. O facto real é que poucas pessoas realmente ajudam. A adopção está longe de ser uma prática comum porque quase ninguém quer ajudar os filhos perdidos dos outros. Todos preferem um filho legítimo em vez da adopção e as leis actuais de adopção não ajudam. Talvez fosse positivo para todos mas, principalmente, para os partidários do Não, pensar numa lei que impusesse uma adopção obrigatória aos casais com mais de um ou dois filhos. Isso significaria assumir a responsabilidade de cuidar daquelas crianças que, em referendo, assumimos que desejavamos que nascessem. Significaria não só ser a favor da vida mas também assumi-lo com responsabilidade. Ser a favor da vida é fácil, difícil é assumir a responsabilidade inerente.
Sem comentários:
Enviar um comentário