Parabéns ao Ricardo Costa e ao José Gomes Ferreira porque a entrevista acabou por ser sem dúvida das mais interessantes de seguir dos últimos tempos.
Não é nada fácil entrevistar José Sócrates. Ele é extremamente seguro e tem um poder de argumentação terrível. Quando se lhe aponta críticas aos investimentos públicos, responde logo: "Ah então você é daqueles que acha que não se deve fazer nada? Acha que devemos ficar de braços cruzados em face da crise?". Isso desbasta logo o entrevistador e evita discutir ao pormenor o real endividamento que o país terá de enfrentar nos próximos anos ou a possibildade de não fazer TGV ou aeroporto ou de fazer menos quilómetros de estradas. A tudo isso Sócrates se for preciso responde com as temíveis perguntas acima indicadas. Em todo o caso, fiquei esclarecido quanto à sua estratégia geral mas não convencido em relação a todas as medidas, principalmente no que diz respeito a cada um dos investimentos públicos. Discuti-los seriamente, um a um, seria importante. Dizer que há estudos custo-benefício na internet para mim não chega. Qual é o cidadão que vai atrás disso? Nem sequer se diz qual o site a visitar em lado nenhum. Parece que os estudos são segredo. Pelo menos as conclusões deveriam ser apresentadas aos cidadãos de forma mais clara e transparente, em horários adequados nas TVs.
Ontem, mais tarde, ainda fui a tempo de ouvir o Director do Jornal Público dizer que a auto-estrada de Trás-os-Montes é errada porque lá só moram 50,000 habitantes e em volta de Lisboa moram dois milhões e meio. Pois, sendo assim, que se mudem todos os portugueses para Lisboa, ficaria logo muito mais barato e que se venda o resto do território desertificado para pagar dívidas...
Manuela Ferreira Leite está cada vez mais distante de ser uma real alternativa de poder. Sócrates nem sequer falou no nome dela durante toda a entrevista. Dele percebe-se que há um plano para o país ainda que se discorde, dela não. É tão simples como isto.