24/06/2008

Crónicas do Janeiro - Chegou oficialmente o Verão

E, este ano, foi preciso ser oficial para que ele realmente se materializasse no nosso clima. Paralelamente ao aumento da temperatura do ar, aconteceu que Portugal abandonou o Euro 2008 às mãos da sempre eficiente, metódica e trabalhadora Alemanha, um valente duche de água fria que poderá ser muito conveniente num dia quente de Verão mas nem por isso foi menos desagradável, como nunca o é, uma derrota da nossa selecção. Ainda assim, o duche não conseguiu acalmar todas as almas do nosso país, seria preciso talvez que fosse mais gelado, ou mais a água, sugestão essa que certamente chocaria os ambientalistas sempre muito atentos a estas coisas. A prova de que nem todos os ânimos se retemperaram é que o auto-carro que havia levado a comitiva portista a Lisboa, para disputar um jogo do campeonato nacional de hóquei, foi criminosamente incendiado, num jogo em que o FC Porto ganhou e acabou por se sagrar de novo campeão, pela sétima vez consecutiva. Assim vão os ânimos nacionais, de um lado o muito quente do outro o muito frio, principalmente se matérias relacionadas com o desporto nacional estão em questão. Enquanto isso, se os camionistas e a subida dos preços do petróleo o permitirem, os nossos governantes poderão folgar um pouco as costas e, assim, em breve, estarão também eles a fazer férias por aí, assim como os nossos desportistas, seja em Manchester ou em Madrid.Enquanto isso, num blogue que costumo visitar com frequência, da jornalista Miriam Leitão do periódico brasileiro “O Globo”, verifiquei que na China, apesar do intenso crescimento económico do país nos últimos anos, vem aumentado a desigualdade entre ricos e pobres, conforme apontam recentes pesquisas. Tirando alguns países europeus e, principalmente, os escandinavos, o tão aclamado crescimento económico arrasta muitas vezes consigo um simultâneo aumento das desigualdades sociais, dependendo do modelo de crescimento em causa. Segundo os especialistas que estudaram o assunto, o vem gerando desigualdade na distribuição de riqueza na China é o facto do modelo de crescimento económico ter sido rápido e concentrado em alguns sectores e regiões. As áreas da costa têm sido continuamente beneficiadas, seja com investimento público, seja com investimento externo, havendo também uma forte cisão entre o campo e a cidade. Por outras palavras, enquanto o modelo de crescimento de um país for rápido e concentrado em alguns sectores e regiões, a tendência é a desigualdade crescer. Haverá melhor exemplo do que Portugal nesta matéria? Quantas e quantas estatísticas teremos de ler que nos indicam sempre que a região de Lisboa e Vale do Tejo é a única em Portugal que se destaca do resto do país a nível económico e social, situando-se dentro da média europeia a 15, quando o resto do país está muito abaixo desse patamar? Está perfeitamente estudado e amplamente divulgado, a equação em causa é: desenvolvimento concentrado em certos sectores e certas regiões igual a desigualdade. Então porque é que se continua a priveligiar sempre as mesmas regiões, há tantos anos, e sempre os mesmo sectores? Para onde caminha o país se o nosso modelo de crescimento continuar a ser Lisboa e a construção? Acho que já todos sabemos.

* Retirado a partir de: http://www.oprimeirodejaneiro.pt/?op=artigo&sec=9bf31c7ff062936a96d3c8bd1f8f2ff3&subsec=&id=8bc4b7e0c67590e482249d5253dc66aa

Sem comentários:

© Gonçalo Coelho