22/05/2007

Eleições intercalares na Câmara de Lisboa: as entrevistas preliminares

Durante a entrevista na TVI ao candidato do Bloco de Esquerda José Sá Fernandes ficou-me a impressão que o objectivo do entrevistador era conseguir demonstrar a todos os portugueses que os políticos são todos farinha do mesmo saco, que nada do que dizem merece credulidade, que já nenhum político diz aquilo que pensa mas antes apenas aquilo que acha que dá votos. Na entrevista estava presente um político que tinha ajudado a colocar a nu actos graves de corrupção, esse malefício terrível a que muitos atribuem o atraso das suas vidas e o atraso do país, culpando geralmente os políticos e o Governo. No entanto, nesta entrevista tentou-se demonstrar que o facto deste político ter colocado a nu alguma da corrupção na Câmara de Lisboa não tinha qualquer mérito, merecendo mesmo ser desvalorizado enquanto mero acto de estratégia política. Esta linha de acção é perigosa pela mensagem que manda aos portugueses de que denunciar a corrupção não tem mérito. Se não se valoriza quem denuncia a corrupção, como conseguiremos combater a corrupção?

Parece-me que o objectivo dos entrevistadores na TV mudou muito nos últimos tempos. As entrevistas renderam-se ao entretenimento e já trocaram o objectivo de esclarecer o público sobre as propostas ou as opiniões dos entrevistados para passarem a outros objectivos de entrevista mais discutíveis. Assim que um candidato fala nas suas propostas, cortam-lhe a palavra como se ele fosse começar a blasfemar. Depois diz-se que não há propostas para Lisboa ou para outra coisa qualquer mas, ao que parece, a comunicação social deixou de estar interessada nessas propostas há muito, salvo raras excepções.

Sem comentários:

© Gonçalo Coelho