"Sábado bate recorde" - nas últimas duas semanas, a revista bateu sucessivos recordes de vendas. Folheando a revista, fica bem patente um dos pontos fulcrais da estratégia da revista que, aliás, também pode ser vista em acção noutros importantes veículos da imprensa nacional e internacional: o foco nas matérias sobre nomes conhecidos e, em particular, na divulgação de detalhes das suas vidas privadas e do seu dia-a-dia que permaneçam ainda, de alguma forma, longe do foco mediático. É assim que olhamos para os títulos dos artigos e descobrimos que, em cerca de 80 a 90% dos casos, há algum nome conhecido do grande público. Mais do que as ideias, o mais importante factor de sucesso da revista Sábado são as pessoas com fama, com reconhecimento do público. Depois, a estratégia é pegar em algum ângulo que ainda não tenha sido divulgado da vida dessas pessoas, se possível, sem abordar quaisquer ideias de grande complexidade mas, antes, meras futilidades da vida pessoal como a que horas se levanta a pessoa, a que horas se deita, que roupa veste, o que toma ao pequeno-almoço ou ao jantar, e por aí vai. É assim que, no artigo principal que faz a capa da revista sobre Ricardo Salgado, não ficamos a saber nada de importante sobre a OPA em si ou sobre as negociações mas ficamos a conhecer factos como estes:
- Ricardo Salgado levanta-se geralmente às 6 horas da manhã
- Ricardo Salgado faz ginástica às 6.15 (escassos 15 minutos após se levantar da cama)
- Ricardo Salgado é amigo de Marcelo Rebelo de Sousa
- Ricardo Salgado foi ao casamento de Letizia com o príncipe Felipe de Espanha
- Ricardo Salgado gosta de fumar uma cigarrilha Davidoff a seguir ao almoço
- Ricardo Salgado gosta de comer bem e peixe grelhado está entre os seus pratos favoritos
- e outras preciosidades mais que aqui me escuso a divulgar porque, afinal de contas, o artigo é da revista Sábado e não meu.
Talvez as pessoas sejam mesmo mais importantes nos dias que correm do que as suas ideias ou a discussão das mesmas. Mas, num país que se pretende que evolua pelo lado do conhecimento, este tipo de artigos não favorece o desenvolvimento do país, favorece antes o seu adormecimento. Não se trata aqui de uma mera crítica destrutiva mas antes de um apelo para um conteúdo mais rico neste tipo de artigos, principalmente agora que a Revista Sábado aumenta a sua responsabilidade social em Portugal, com o aumento do seu número de leitores.
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