20/02/2007

Blood Diamond - Diamante de Sangue

Talvez a melhor maneira de se apreciar um filme seja entrar na sala de cinema com baixas expectativas. Foi exactamente o que me sucedeu no caso do Blood Diamond. Seja como for, a minha opinião permance inalterada: o filme é brilhante! Nunca me pareceu tão claro que dois actores merecem um óscar: falo de Leonardo de Caprio e Djimon Hounson. As minhas expectativas em relação a Leonardo de Carpio eram baixíssimas e influenciavam claramente a expectativa geral que tinha do filme. No entanto, a actuação de Leonardo de Caprio é um dos pontos mais brilhantes de todo o filme senão o mais brilhante a par com a actuação de Djimon Hounson no papel de actor secundário. Quanto ao conteúdo do próprio filme, fala-nos de tragédia, da tragédia que todos os dias ocorre e que sabemos que ocorre em África, o continente esquecido pelo mundo. A tragédia colocada numa moldura sempre foi algo que me afastou de certo tipo de arte. Fazer arte não deve ser capitalizar sobre o drama e a tragédia que se abate sobre os outros. Esse aspecto aparece simbolizado numa das cenas do filme em que um conjunto de jornalistas desce ávido de uma carrinha para fotografar uma criança que acaba de ser atingida na beira da estrada por um tiro. Todos querem tirar a valiosa foto mas depois ninguem quer levar a criança na carrinha, alegando não haver espaço para mais ninguém. Assumir responsabilidades pela vida dos outros sempre foi mais complicado do que divulgar os problemas. É o que sinto de uma boa parte dos trabalhos assentes nas grandes tragédias existentes à volta do mundo, servem-se da tragédia para valorizar o seu trabalho mas não contribuem em nada para melhorar a própria tragédia em si mesma. Mesmo o facto de chamar a atenção para uma determinada tragédia perdeu o seu valor no mundo de hoje onde as notícias se sobrepõem umas às outras a grande velocidade. Ora nos deparamos com imagens chocantes de alguém a morrer à fome em África, ora logo assistimos a novas mortes no Iraque e pouco depois já estamos a ver mais mortes na Palestina. O resultado é que tudo acaba por ser atraído inevitavelmente para um enorme buraco sem fundo do esquecimento. Os meios de comunicação não nos permitem muito tempo de reflexão sobre os acontecimentos, pois clamam pela nossa atenção constantemente, é o seu trabalho produzir constantemente algo de extrema importância. Cabe aos expectadores, aos receptores de informação parar e reflectir. Só isto pode levar a ganhar maior consciência da informação. Paradoxalmente, chamar a atenção para a tragédia nunca contribuiu tanto para o seu esquecimento como nos tempos de hoje (mesmo admitindo que esse efeito seja totalmente involuntário, claro). Este filme, no entanto surpreende porque é realmente arte, não é só a pura capitalização da tragédia humana. Se tudo corresse normalmente, ninguém mais compraria diamantes no mundo inteiro depois de ver este filme mas isso não irá suceder porque as pessoas logo são bombardeadas com novas tragédias nos noticiários, no cinema, nos documentários, etc, o que fará abater-se um manto de esquecimento sobre a tragédia que os diamantes trouxeram a África.

Assim recomendo este filme apenas e só como uma excelente obra de arte e que, em seguida, cada um se permita tempo (se o puder dispensar para o efeito) para reflectir antes de receber nova informação sobre mais tragédias mundiais!

Aprecie a banda sonora que faz magia no filme, juntamente com imagens e clipes de vídeo neste fantástico trabalho disponibilizado no YouTube.

Sem comentários:

© Gonçalo Coelho