01/09/2006

Caso Mateus: a Fifa arrisca-se a transformar-se num Vaticano do futebol


Um Estado dentro de outro Estado. Esta definição poderia ser aplicada tanto ao Vaticano como à FIFA, o organismo que rege o futebol mundial, incluindo os campeonatos nacionais de cada país. Tal como o Vaticano, a FIFA tem as suas leis próprias que procura impor no mundo que rege. Para fazer notar que quem está sob a égide da FIFA só deve obedecer à própria FIFA, incluindo clubes, jogadores, árbitros e toda a gente que tem alguma relação com o futebol, a FIFA impõe como lei que os clubes não podem recorrer aos tribunais civis ou haverá, por assim dizer, "represálias". Aparentemente, e dado o crescente poder da FIFA, os Estados permitem-no. Os clubes, procurando defender os seus interesses procuram a justiça da FIFA ou a dos Estados conforme achem que é este ou aquele que melhor defende os seus interesses. Ou seja, para os clubes, há duas justiças.
Não podemos afirmar, contudo, que o caso seja exclusivamente português porque a Juventus acabou de passar por uma situação semelhante à do Gil Vicente e, aparentemente, acabou por sucumbir perante a pressão da FIFA. Ou seja, não há harmonia entre a justiça dos Estados e a justiça do futebol e da FIFA. Mas será que houve alguma vez interesse em que houvesse essa harmonia? Não terá sido preferível e até conveniente manter estas polémicas e estas lacunas para que a FIFA possa, mais facilmente, exercer o seu poder, à margem das leis dos Estados, e assim ambicionar ela própria a ser um Estado dentro dos Estados, como um Vaticano? Talvez seja tempo dos próprios países começarem a ter um olhar mais atento e dedicado para a FIFA e para o futebol que ameaçam ficar cada vez mais poderosos e poder impor as próprias leis, sob pena dos Estados perderem cada vez mais o controlo judicial sobre o futebol e todas as ligações do futebol com a sociedade.

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© Gonçalo Coelho